quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Trecho do livro o Grande Enigma de Léon Denis
Se a inteligência existe no homem, deve encontrar-se nesse Universo de que faz parte integrante. O que existe na parte deve encontrar-se no todo.
A matéria não é mais que a vestimenta, a forma sensível e mutável, revestida pela vida; um cadáver não pensa, nem se move. A força é um simples agente destinado a entreter as forças vitais. É, pois a inteligência que governa os mundos.
Essa inteligência se manifesta por leis, leis sábias e profundas, ordenadoras e conservadoras do Universo.
Todas as pesquisas, todos os trabalhos da ciência contemporânea, concorrem para demonstrar a ação das leis naturais, que uma Lei suprema liga, abraça, para constituir a universal harmonia. Por essa lei, uma Inteligência soberana se revela a razão mesma das coisas, Razão consciente, Unidade universal para onde convergem, ligando-se e fundindo-se, todas as relações, aonde todos os seres vêm haurir a força, a luz e a vida; Ser absoluto e perfeito fundamente imutável e fonte eterna de toda a ciência, de toda a verdade, de toda a sabedoria, de todo o amor.
Algumas objeções são, no entanto, de prever. Pode-se dizer, por exemplo: as teorias sobre a matéria, sobre a força, sobre a inteligência, tais as que formulavam outrora as escolas científicas e filosóficas, tiveram o seu tempo. Novas concepções as substituem. A física atual nos demonstra que a matéria se dissocia pela análise, se resolve em centros de forças, e que a força se reabsorve no éter universal.
Sim, certamente, os sistemas envelhecem e passam; as fórmulas gastam-se; mas a idéia eterna reaparece sob formas cada vez mais novas e mais ricas. Materialismo e espiritualismo são aspectos transitórios do conhecimento. Nem a Matéria, nem o Espírito são o que deles pensavam as escolas de outrora, e talvez a matéria, o pensamento e a vida estejam ligados por laços estreitos, que começamos a entrever.
Certos fatos, no entanto, subsistem e outros problemas se impõem. A matéria e a força se reabsorvem no éter; mas, que é o éter? É, diz-nos, a matéria-prima, o substrato definitivo de todos os movimentos. O próprio éter é atravessado por movimentos inumeráveis: radiações luminosas e caloríficas, correntes de eletricidade e de magnetismo. Ora, é perfeitamente necessário que esses movimentos sejam regulados de certa maneira.
A força gera o movimento, mas a força não é a lei. Cega e sem guia, ela não poderia produzir a ordem e a harmonia no Universo. Estas são, no entanto, manifestas. No cimo da escala das forças aparece a energia mental, a vontade que constrói as fórmulas e fixa as leis (2).
A inércia, dir-nos-ão, ainda é relativa, visto que a matéria é energia concentrada. Na realidade, todas as partes constitutivas de um corpo se movem. Entretanto, a energia armazenada nesses corpos só pode entrar em potência de ação quando a matéria componente é dissociada. Não é o caso dos planetas, cujos elementos representam à matéria em seu último grau de concreção. Seus movimentos não se podem explicar por uma força interna, mas somente pela intervenção de uma energia exterior.
- "A inércia, diz G. Le Bon (3), é a resistência de causa desconhecida, que os corpos opõem ao movimento ou mudança de movimento. Ela é suscetível de medida que se define pelo termo - massa. A massa é, pois, a medida da inércia da matéria, seu coeficiente de resistência ao movimento.”.
Desde Pitágoras até Claude Bernard, todos os pensadores afirmam que a matéria é desprovida de espontaneidade. Toda tentativa de emprestar a substancia inerte uma espontaneidade - capaz de organizar e de explicar a força, tem sido em vão.
E preciso, pois, aceitar a necessidade de um primeiro motor transcendente para explicar o sistema do mundo. A mecânica celeste não se explica por si mesma, e a existência de um motor inicial se impõe. A nebulosa primitiva, mãe do Sol e dos planetas era animada de um movimento giratório. Mas quem lhe imprimira esse movimento? Respondemos sem hesitar: Deus. (4)
E somente a ciência-contemporânea que nos revela Deus, o Ser Universal? O homem interroga a história da Terra; evoca a memória das multidões mortas, das gerações que repousam sob a poeira dos séculos; interroga a fé crédula dos simples e a fé raciocinada dos sábios; e, por toda parte, acima das opiniões contraditórias e das polêmicas das escolas, acima das rivalidades de casta, de interesses e de paixões, ele vê os transportes, as aspirações do pensamento humano para a Causa que vela augusta e silenciosa, sob o véu misterioso das coisas.
Em todos os tempos e em todos os meios, a queixa humana sobe para esse Espírito divino, para essa Alma do mundo que se honra sob nomes diversos, mas que, sob tantas denominações: Providência, grande Arquiteto, Ser supremo, Pai celeste, é sempre o Centro, a Lei, a Razão universal, em que o mundo se conhece, se possui, encontra sua consciência e seu eu.
E é assim que, acima desse incessante fluxo e refluxo de elementos passageiros e mutáveis, acima dessa variedade, dessa diversidade infinita dos seres e das coisas que constituem o domínio da Natureza e da Vida, o pensamento encontra no Universo esse princípio fixo, imutável, essa Unidade consciente em que se unem a essência e a substância, fonte primeira de todas as consciências e de todas as formas, visto que consciência e forma, essência e substância, não podem existir uma sem a outra. Elas se unem para constituir essa Unidade viva, esse Ser absoluto e necessário, fonte de todos os seres, ao qual chamamos Deus.
A linguagem humana é, entretanto, impotente para exprimir a idéia do Ser infinito. Desde que nos servimos de nomes e de termos, limitamos o que é sem limites. Todas as definições são insuficientes e, de certo modo, induzem o erro. Entretanto, o pensamento para se exprimir precisa de termo. O menos afastado da realidade é aquele pelo quais os padres do Egito designavam Deus: Eu sou, isto é, eu sou o Ser por excelência, absoluto, eterno, e do qual emanam todos os seres.
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