quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

RELACIONAMENTO HUMANO E TECNOLOGIA




Lindo texto que extrai do site da ABRADE...Vejam....

Relacionamento humano e tecnologia

CONSTRUTORES DE PONTES

"Você sabe o que é um Pontífice? Certamente que sim.
Pontífice é o sacerdote de maior hierarquia numa religião. Por
exemplo: o Papa é um "pontífice". Contudo, queremos falar sobre o
significado desta palavra na Antigüidade. Pontífice era um
construtor de pontes.

Como você pode perceber, todos nós podemos ser pontífices,
mesmo que não tenhamos a menor idéia de como se constrói uma
ponte de madeira, de aço ou de concreto. Podemos construir pontes de
relacionamento entre nós e outras pessoas Essa ponte deve partir do
nosso coração para os corações das outras pessoas.

Construir pontes é construir relacionamentos, e para que esse
relacionamento seja saudável e duradouro temos que respeitar as
características da pessoa, ao mesmo tempo em que anulamos ou
controlamos alguns dos nossos impulsos menos felizes."

Amilcar Del Chiaro Filho

Os últimos duzentos anos modificaram profundamente a face do planeta.
Nações antes poderosas mergulharam no esquecimento e novos poderes se
estabeleceram com base na automação e na informatização.
Avanços significativos que se por um lado trouxeram grandes
benefícios materiais e possibilidades novas, por outro tornaram a
vida sofisticada e no entanto, mais triste.

O texto que usamos como epígrafe nos sugere a construção de novas
pontes de relacionamento, diante das transformações havidas e não
totalmente assimiladas pelo grosso da população, o que tem gerado
não apenas o distanciamento entre as gerações, como também o
esfriamento nas relações humanas.

As relações sociais sofreram profundas mudanças, e no seu bojo a
família tradicional perdeu seu lugar, bem como a sociedade, tal como
a concebíamos, também se extinguiu no torvelinho das dores
coletivas e das prementes necessidades de sobrevivência, que levam
milhões de homens e mulheres de todas as idades a viver em busca do
sustento diário sob condições adversas, sem muitos espaços ou
momentos de convivência que alimentem o espírito cansado pelas
lutas diárias.

A sociedade hoje, disse Umberto Eco, não é mais como uma praça
onde as pessoas se encontravam para comerciar, para trocar idéias,
relacionarem-se, informarem-se e compartilhar experiências. A
sociedade hoje é como uma avenida, onde as pessoas passam umas pelas
outras sem se verem ou se falarem, apenas observando as vitrines.

Nem mesmo Kubrick poderia imaginar que 2001 chegaria e passaria sem
nenhuma odisséia no espaço. Pelo contrário, um episódio que
mudaria os rumos da história aconteceu aqui mesmo em terra firme. Nem
George Orwell, em seu "1984", imaginou que o Grande Irmão se
faria tão onipotente com olhos eletrônicos onipresentes e vozes
monotônicas e repetitivas até a exaustão. Um admirável mundo
novo não pensado por Huxley está aí, à nossa volta, onde
cabe muito bem o Eu robô, de Isaac Asimov.

Em meio a todos esses prognósticos sombrios, uma humanidade cansada
de guerras anseia por segurança e paz, diante do fim das energias
utópicas e das ideologias. Restou um amplo espaço para todos os
tipos de esoterismos e para seitas que buscam preencher os vazios
existenciais e o desespero das multidões miseráveis com uma
teologia que promete prosperidade infinita. Há uma busca generalizada
por um propósito e um novo sentido para a existência.

A tecnologia da qual nos servimos quase que obrigatoriamente,
paradoxalmente nos une, limita e separa. Na era da comunicação temos
dificuldades para encontrar tempo para relacionamentos mais estáveis.
"Não tenho tempo". Essa é uma frase comum, e aqueles que
as pronunciam em geral não estão mentindo. A mesma tecnologia que
nos possibilita rápidos contatos nos impede o diálogo com calor
humano. Essa é a mesma tecnologia que nos rouba o tempo para conviver
e saborear a vida.

Alteridade é uma palavra que ainda soa estranha aos nossos ouvidos.
Propõe uma nova ética de relacionamento e, portanto, um novo
comportamento perante os que pensam ou são diferentes de nós.
Não um relacionamento morno e amorfo, pasteurizado, onde não possa
existir a divergência e as diferenças naturais de opinião, que
são indicadores de saúde e vitalidade na comunidade humana.
Somente a tirania e o despotismo podem estabelecer o silêncio
absoluto e a paz de superfície. A alteridade é possível se
houver a superação da robotização dos relacionamentos.

Apesar do quadro sombrio que se nos apresenta, é preciso convir que a
humanidade tem sabido contornar situações-limite ao longo de sua
história. Assírios e babilônios, caldeus e persas, egípcios,
gregos e romanos, superaram as ausências dos pilares de
sustentação de suas civilizações e aqui estamos, herdeiros do
nosso passado, diante da necessidade de reinventar caminhos, desta vez
mais amplos, por onde possam passar mais e mais pessoas.

Num mundo onde a violência predomina, o diálogo, a convivência
respeitosa e a disposição de ouvir o outro e solucionar conflitos sem
confrontos, torna-se questão de sobrevivência. Alguns mais
pessimistas antecipam o cliocídio, o fim da história. Porém, a
felicidade é possível, embora só possa ser conjugada no futuro,
pois no presente apenas ansiamos por ela e a construímos aos poucos.

A convivência com base no diálogo também é possível, mas
depende de determinação e de boa vontade, de disposição de
espírito e abertura para um longo e talvez penoso exercício de
tolerância baseada no respeito pelas razões alheias.

- Paulo R. Santos (MG)

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